lunedì 5 novembre 2012

Carta do 15 de Janeiro 1544 do Nosso caríssimo em Cristo irmão FRANCISCO XAVIER


20
AOS SEUS COMPANHEIROS
RESIDENTES EM ROMA

Cochim, 15 de Janeiro 1544

Duma cópia em castelhano, feita em Coimbra em 1547

SUMÁRIO: 1. Cartas que tem escrito. – 2. Entre os cristãos do Cabo de Comorim: sua ignorância religiosa, modo de os catequizar, tradução das fórmulas catequéticas em língua malabar. – 3-4. Instruções que dá aos domingos sobre os mandamentos e o credo. – 5. Assiduidade das crianças à catequese e desprezo a que votam os ídolos. – 6. Baptiza as crianças que nascem, catequiza jovens e adultos, envia as crianças da catequese a rezar os evangelhos sobre os enfermos em suas casas. – 7. Nos outros lugares segue o mesmo método. – 8. Ânsias de estimular o zelo dos doutores das universidades a irem para as missões converter pagãos. Trabalhos apostólicos e baptismos até cansar os braços. Apoio do Governador às missões e amizade à Companhia de Jesus. – 9. O colégio para indígenas em Goa, confiado a Micer Paulo. – 10. Vícios dos brâmanes. – 11. Modo de agir com os brâmanes: disputas com eles sobre a imortalidade da alma e a cor de Deus; fealdade dos seus ídolos; respeitos humanos em converterem-se. – 12. Segredos doutrinais que lhe confia um brâmane. – 13-14. Suas grandes consolações e alegrias. Missas pelo cardeal Guidiccioni – 15. Confiança na intercessão dos milhares de crianças que baptizou e morreram na inocência.


A graça e amor de Cristo nosso Senhor seja sempre em nossa ajuda e favor. Amen.
1. Há dois anos e nove meses que parti de Portugal e, desde então, vos escrevi de cá três vezes com esta1. Só umas cartas vossas recebi, desde que estou cá na Índia, as quais foram escritas a 13 de


1 Pelas naus que partiam para Lisboa em 1542 (Xavier-doc. 13, da ilha de Moçambique); pelas naus que partiam em 1543 (Xavier-doc. 15-17, de Goa; Xavier-doc. 19, de Tuticorim).
Doc. 20 – 15 de Janeiro de 1544 135


Janeiro do ano de 15422. A consolação que recebi com elas, Deus Nosso Senhor sabe. Estas cartas entregaram-mas haverá dois meses3. Chegaram tão tarde à Índia, porque o navio em que vinham invernou em Moçambique4.

2. Micer Paulo, Francisco de Mansilhas e eu estamos com muita saúde. Micer Paulo está em Goa, no colégio de Santa Fé: tem o encargo dos estudantes daquela casa. Francisco de Mansilhas e eu estamos com os cristãos do Cabo de Comorim. Há mais de um ano que estou com estes cristãos, dos quais vos faço saber que são muitos5 e se fazem muitos mais cada dia. Logo que cheguei a esta costa, onde eles vivem, procurei saber deles que conhecimento de Cristo Nosso Senhor tinham. Perguntando-lhes, acerca dos artigos da fé, o que criam, ou que mais tinham agora que eram cristãos que quando eram gentios, não obtinha deles outra resposta senão a de que eram cristãos e que, por não entender a nossa língua, não sabiam a nossa lei nem o que haviam de crer6. Como eles não me entendessem nem eu a eles, por ser a sua língua natural a malabar7 e a minha a viscainha, juntei os que entre eles eram mais sabedores e escolhi


2 Esta carta, enviada de Lisboa à Índia em 1542 (Epp. Mixtae I 93) não se encontrou.
3 Provavelmente em Goa, onde Xavier tinha voltado da Pescaria. De Goa partiu de novo Xavier com Mansilhas e o secretário do Governador, António Cardoso, em fins de Dezembro, tendo aportado em Cochim no dia 3 de Janeiro de 1544 (CORREA, Lendas da Índia, IV 335; MX II 180; 185).
4 A urca S. Mateus, que trazia as cartas, teve de invernar em Moçambique e chegou a Goa a 30 de Agosto de 1543 (FIGUEIREDO FALCÃO, Livro 160; CORREA, l.c. IV 264; 305). Inácio voltou a escrever a Xavier em Março de 1543; mas a armada da Índia já tinha partido de Lisboa em 25 de Março, antes de a carta aí chegar (MI Epp. I 267; FIGUEIREDO FALCÃO, Livro 160).
5 Xavier encontrou na Pescaria cerca de 20.000 paravás já baptizados; em fins de 1544 tinha ele baptizado em Travancor uns 10.000 macuas. Por alturas da sua morte, em 1552, a Pescaria e Travancor somavam à volta de 50.000 cristãos (SCHURHAMMER, Die Bekehrung 225-230).
6 Cf. ib. 230-233.
7 Língua tamul.


a pessoas que entendessem a nossa língua e a sua, deles. E depois de nos termos juntado muitos dias, com grande trabalho, traduzimos as orações, começando pelo modo de se benzer confessando as três pessoas serem um só Deus, depois o Credo, Mandamentos, Pai-nosso, Avè-Maria, Salvè-Rainha, e a Confissão geral, do latim em malabar. Depois de as ter traduzido na sua língua e sabê-las de cor, ia por todo o lugar8, com uma campainha na mão, juntando todos os moços e homens que podia e, depois de os ter juntado, ensinava-os cada dia duas vezes. No espaço de um mês, ensinava as orações, dando a seguinte ordem: que os moços, aos seus pais e mães, e a todos os de casa e vizinhos, ensinassem o que na escola aprendiam.


3. Aos domingos, fazia juntar todos os do lugar, tanto homens como mulheres, grandes e pequenos, a dizer as orações na sua língua; e eles mostravam muito prazer e vinham com muita alegria. Começando pela confissão de um só Deus, trino e uno, diziam a grandes vozes o Credo na sua língua: à medida que eu o ia dizendo, todos repetiam. Acabado o Credo, tornava-o a dizer eu só: dizia cada artigo por si e, detendo-me em cada um dos doze, admoestava-os de que cristãos não quer dizer outra coisa senão crer firmemente, sem dúvida alguma, os doze artigos; e, já que eles confessavam que eram cristãos, perguntava-lhes se criam firmemente em cada um dos doze artigos. E assim, todos juntos, a grandes vozes, homens e mulheres, grandes e pequenos, me respondiam a cada artigo que sim, postos os braços sobre o peito, um sobre o outro, em forma de cruz: assim lhes faço dizer mais vezes o Credo que outra oração, pois só por crer nos doze artigos o homem se chama cristão. Depois do Credo, a primeira coisa que lhes ensino são os Mandamentos, dizendo-lhes que a lei dos cristãos tem só dez mandamentos, e que um cristão se diz bom, se os guarda como Deus manda e, pelo contrário, aquele que não os guarda é mau cristão. Ficam muito espantados, tanto cristãos como gentios, de ver quão santa é a lei de Jesus Cristo e conforme com


8 Tuticorim.



toda a razão natural. Acabado o Credo e os Mandamentos, digo o Pai-nosso e a Avè-Maria: assim como os vou dizendo, assim eles me vão respondendo. Dizemos doze Pai-nossos e doze Avè-Marias em honra dos doze artigos do Credo e, acabados estes, dizemos outros dez Pai-nossos e dez Avè-Marias em honra dos dez Mandamentos, guardando a ordem que se segue. Primeiramente, dizemos o primeiro artigo da fé e, depois de o dizer, digo na sua língua, deles, e eles comigo: Jesus Cristo, Filho de Deus, dai-nos graça para firmemente crer, sem dúvida alguma, o primeiro artigo da fé. E, para que nos dê esta graça, dizemos um Pai-nosso. Acabado o Pai-nosso, dizemos todos juntos: Santa Maria, Mãe de Jesus Cristo, alcançai-nos graça de vosso Filho Jesus Cristo para firmemente sem dúvida alguma crer no primeiro artigo da fé. E, para que nos alcance esta graça, dizemos-lhe a Avè-Maria. Esta mesma ordem seguimos em todos os outros onze artigos.

4. Acabado o Credo e os doze Pai-nossos e Avè-Marias, como disse, dizemos os Mandamentos pela ordem que se segue: primeiramente digo o primeiro mandamento, e todos dizem como eu. Acabando de o dizer, dizemos todos juntos: Jesus Cristo, Filho de Deus, dai-nos graça para amar-vos sobre todas as coisas. Pedida esta graça, dizemos todos o Pai-nosso, acabado o qual, dizemos: Santa Maria, Mãe de Jesus Cristo, alcançai-nos graça de vosso Filho para podermos guardar o primeiro mandamento. Pedida esta graça a Nossa Senhora, dizemos todos a Avè-Maria. Esta mesma ordem seguimos em todos os outros nove mandamentos. De maneira que, em honra dos doze artigos da fé, dizemos doze Pai-nossos com doze Avè-Marias, pedindo a Deus Nosso Senhor graça para firmemente e sem dúvida alguma crer neles; e dez Pai-nossos com dez Avè-Marias, em honra dos dez Mandamentos, rogando a Deus Nosso Senhor que nos dê graça para os guardar. Estas são as petições que por nossas orações lhes ensino a pedir, dizendo-lhes que, se estas graças de Deus Nosso Senhor alcançarem, Ele lhes dará tudo o demais, mais plenamente do que eles o saberiam pedir. A Confissão geral faço-a
 dizer a todos, especialmente aos que se vão baptizar. E, depois, o Credo, interrogando-os sobre cada artigo, se o crêem firmemente. E, respondendo-me eles que sim e dizendo-lhes [eu] a Lei de Jesus Cristo que terão de guardar para se salvar, os baptizo. A Salvè-Rainha dizemo-la quando queremos acabar as nossas orações.


5. Os jovens, espero em Deus Nosso Senhor que hão-de ser melhores homens que seus pais, porque mostram muito amor e vontade à nossa Lei, e de saber as orações e ensiná-las. Aborrecem-lhes muito as idolatrias dos gentios, a tal ponto que muitas vezes lutam com os gentios e repreendem os seus pais e mães quando os vêem idolatrar, e acusam-nos, de maneira que mo vêm dizer. Quando me avisam de algumas idolatrias, que se fazem fora dos lugares, junto todos os jovens do lugar e vou com eles aonde fizeram os ídolos; e são mais as desonras que o diabo recebe dos jovens que levo, que as honras que seus pais e parentes lhes dão na altura em que os fazem e adoram. Porque tomam os meninos os ídolos e os desfazem em pedaços tão miúdos como cinza9; depois, cospem neles e pisam-nos com os pés; e, finalmente, outras coisas que, embora não pareça bem nomeá-las por seus nomes, é honra dos jovens fazê-las a quem tem tanto atrevimento de fazer-se adorar de seus pais. Estive numa grande povoação de cristãos10, traduzindo as orações da nossa língua para a sua e ensinando-lhas quatro meses.


6. Neste tempo, eram tantos os que me vinham procurar, para que fosse a suas casas rezar algumas orações sobre os enfermos, e outros que com as suas doenças vinham ter comigo que, só em rezar evangelhos sem ter outra ocupação, e em ensinar os jovens, baptizar, traduzir orações, satisfazer a perguntas, não me deixavam;


9 Estes ídolos descreve-os pormenorizadamente Manuel de Moraes, S.I. em 1547: «Seus santos a quem adoram e têm na sua igreja são cavalos de barro, e homens de pedra, e figuras de cobras de pedra, pavões, gralhas; e também adoram a montes de pedra e barro e areia que jazem pelos caminhos» (Doc. Indica I 245-246).
10 Tuticorim.



e, além disso, em enterrar os que morriam. Era de tal maneira que, em corresponder à devoção dos que me levavam [a suas casas] ou vinham procurar-me, tinha ocupações demasiadas. Mas, para que não perdessem a fé, que à nossa religião e lei cristã tinham, não estava em meu poder negar tão santa procura. E, como a coisa ia em tão grande crescimento que a todos não podia atender, nem evitar paixões sobre a qual casa primeiro havia de ir, vista a devoção da gente, ordenei maneira que a todos pudesse satisfazer: mandava aos jovens, que sabiam as orações, que fossem [eles] às casas dos doentes, e que juntassem todos os de casa e vizinhos, e que dissessem [com] todos o Credo muitas vezes, dizendo ao doente que acreditasse e que sararia; e, depois, as outras orações. Desta maneira satisfazia a todos e fazia ensinar pelas casas e praças o Credo, Mandamentos e as outras orações. E, assim, aos doentes, pela fé dos de casa, vizinhos e sua própria, Deus Nosso Senhor lhes fazia muitas mercês, dando-lhes saúde espiritual e corporal. Usava Deus de muita misericórdia com os que adoeciam, pois pelas doenças os chamava e quase à força os atraía à fé.


7. Deixando neste lugar quem leve por diante o começado, vou visitando os outros lugares11, fazendo o mesmo. De maneira que, nestas partes, nunca faltam pias e santas ocupações. O fruto que se faz em baptizar as crianças que nascem, e em ensinar os que têm idade para isso, nunca vo-lo poderia acabar de escrever. Pelos lugares por onde passo, deixo as orações por escrito e, aos que sabem escrever, mando que as escrevam, e aprendam de cor, e as digam cada dia, dando ordem para que, aos domingos, se juntem todos a dizê-las. Para isso, deixo nos lugares quem fique com o encargo de o fazer.


11 As aldeias cristãs a norte de Tuticorim eram estas: Vaippâr, Chetupar, Vêmbâr. A sul, até Manapar (cf. Xavier-doc. 19,8). De Manapar para sul: Puducare, Periya Tâlai, Ovari, Kûttankuli, Idindakarai, Perumanal, Kûmari, Muttam, Kanniyâkumâri (Cabo de Comorim), Kovakulam, Râjakkamangalam, todas aldeias de paravas.


 Muitos cristãos se deixam de fazer nestas partes, por não haver pessoas que em tão pias e santas coisas se ocupem. Muitas vezes me movem pensamentos de ir aos centros de estudos dessas partes – dando gritos, como alguém que tenha perdido o juízo – e principalmente à universidade de Paris, dizendo na Sorbona12 aos que têm mais letras que vontade, para dispor-se a frutificar com elas. Quantas almas deixam de ir para a glória e vão para o inferno, pela negligência deles! Se, assim como vão estudando em letras, estudassem na conta que Deus Nosso Senhor lhes pedirá delas e do talento que lhes deu, muitos deles se moveriam, tomando meios e Exercícios Espirituais para conhecer e sentir dentro, em suas almas, a vontade divina, conformando-se mais com ela que com as suas próprias afeições, dizendo: «Senhor, aqui estou. Que queres que eu faça? Envia-me aonde quiseres; e se convém, mesmo aos índios13». Quanto mais consolados viveriam, e com mais esperança da misericórdia divina à hora da morte, quando entrassem no Juízo particular a que ninguém pode escapar, alegando a seu favor: «Senhor, entregaste-me cinco talentos, eis aqui outros cinco que eu ganhei com eles!»14 Receio de que muitos dos que estudam nas universidades, estudem mais para, com as letras, alcançarem dignidades, benefícios, bispados, que com desejo de conformar-se com a necessidade que as dignidades e estados eclesiásticos requerem. É costume dizerem os que estudam: Desejo saber letras para alcançar algum benefício ou dignidade eclesiástica com elas e, depois, com a tal dignidade, servir a Deus. De maneira que, segundo as suas desordenadas afeições, fazem as suas eleições, temendo que Deus não queira o que eles querem, não consentindo as suas desordenadas afeições deixar na vontade de Deus Nosso Se


12O colégio da Sorbona, fundado em 1257, já então era o centro da universidade de Paris.
13 A propósito escrevia em 1558 o P. H. Henriques: «Sempre se pode fazer muito serviço a Deus, posto que sejam estas partes pelas quais a Cristo disse São Tomé: ‘envia-me aonde quiseres, mas não aos índios’» (Goa 8, 149r).
14 Mt 25,20.



nhor esta eleição15. Estive quase movido a escrever à universidade de Paris, ao menos ao nosso Mestre de Cornibus16 e ao Doutor Picardo17, quantos mil milhares de gentios se fariam cristãos se houvesse operários, para que [lá] fossem solícitos em buscar e favorecer as pessoas que não buscam os seus próprios interesses mas os de Jesus Cristo18. É tão grande a multidão dos que se convertem à fé de Cristo, nesta terra onde ando, que, muitas vezes, me acontece sentir cansados os braços de baptizar; e não poder falar, de tantas vezes dizer o Credo e os Mandamentos, na sua língua, deles, e as outras orações, com uma exortação que sei na sua língua, na qual lhes declaro o que quer dizer cristão, e que coisa é paraíso, e que coisa inferno, dizendo-lhes quais são os que vão a um e quais a outro. Mais que todas as outras orações, digo-lhes muitas vezes o Credo e os Mandamentos. Há dia em que baptizo toda uma povoação e, nesta Costa onde ando, há trinta povoações de cristãos19.


15 Cf. Preâmbulo para fazer eleição nos Exercícios Espirituais de S. Inácio (MI, Exercitia 372-373).
16 Pedro de Cornibus, OFM, nascido em Beaune (Borgonha) por 1480, doutor pela universidade de Paris em 1524, mestre de Xavier, Fabro e Bobadilla, verdadeiro amigo da Companhia de Jesus, pregador eminente, faleceu em Paris em 1555 (VILLOSLADA, La Universidad de Paris 220 227 430; Fabri Mon. 99; Epp.Mixtae I 64).
17 Doutor Picardo Fraçois Le Picard), nascido em Paris em 1504, professor de Teologia em 1534, célebre pregador e doutor pela Sorbona, principal adversário dos reformadores, mestre de Xavier, Fabro e Bobadilla, sincero amigo da Companhia de Jesus, morreu com fama de santidade em Paris em 1556 (POLANCO, Chron I 94, 419; II 297; III 291; IV 323; V 332, 335; VI 486; E. DOUMERGUE, Jean Calvin , Lausanne 1899, I 240-241; VILLOSLADA, l.c. 431; MI, Epp. I 133; Bobad.Mon. 561; Epp. Mixtae I 64, 69, 582-583).
18 Fil 2,21.
19 As localidades cristãs da Costa da Pescaria já referidas por nós (cf. nota 11 e Xavier-doc. 19,8) somam 20. Podemos acrescentar outras localidades menores, como Pudukudi perto de Manapar, além de Pudukudi perto de Alentalai, duas aldeias de careas e a aldeia de Tomás da Mota perto de Kombuturê (Xavier-doc. 30,3; 39,5), talvez também Mukur perto de Vêmbâr e ainda, para o norte, as localidades de careas Periapattanam e Vêdâlaí (SCHURHAMMER, Die Bekehrung 266).


8. O Governador desta Índia é muito amigo dos que se fazem cristãos. Fez mercê de 4.000 peças de ouro20 cada ano e, estas, para que apenas se gastem e dêem àquelas pessoas que, com muita diligência, ensinam a doutrina cristã nos lugares dos recém-convertidos à fé. É muito amigo de todos os da nossa Companhia. Deseja muito que venham a estas partes alguns da nossa Companhia, e assim me parece que o escreve ao Rei.


9. No ano passado, escrevi21 acerca de um colégio, que se está a fazer na cidade de Goa, no qual há já muitos estudantes. São de diversas línguas, e todos de geração de infiéis. Entre eles, internos no colégio, onde há muitos edifícios feitos, há muitos que aprendem latim e, outros, a ler e escrever. Micer Paulo está com estes estudantes do colégio: diz-lhes Missa todos os dias, e confessa-os, e nunca deixa de dar-lhes doutrina espiritual. Tem [também] o encargo das coisas corporais de que têm necessidade os estudantes. Este colégio é muito grande: nele podem viver mais de quinhentos estudantes. Tem rendas suficientes para os manter: são muitas as esmolas que a este colégio se fazem, e o Governador favorece-o largamente. É caso para todos os cristãos darem graças a Deus Nosso Senhor pela fundação desta casa, que se chama o Colégio da Santa Fé. Antes de muitos anos, espero da misericórdia de Deus Nosso Senhor que o número de cristãos se há-de multiplicar grandemente e as fronteiras da Igreja se hão-de ampliar por meio dos que neste santo colégio estudam.


10. Há nestas partes, entre os gentios, uma classe a que chamam brâmanes: estes mantêm toda a gentilidade. Têm o encargo das casas


20 Estas peças de ouro eram fanões, moedas muito miúdas, em uso na Pescaria e norte de Ceilão. Dez fanões equivaliam a 1 xerafim de ouro = 1 pardau de prata = 300 reis. Portanto, no tempo de Xavier, 4.000 fanões valiam 400 xerafins de ouro = 400 pardaus de prata = 210 cruzados. Era o tributo dos paravas para ao «chapins da rainha». Com o andar dos anos, os pardaus e os cruzados foram perdendo valor, enquanto o dos fanões se manteve invariável naquela região. Por isso não admira que Lucena, no seu tempo (ano 1600), calcule 4.000 fanões = 400 cruzados.
21 Xavier-doc. 16.
Doc. 20 – 15 de Janeiro de 1544 143


onde estão os ídolos: é a gente mais perversa do mundo. Destes se percebe o que diz o Salmo: «Da gente não santa, do homem iníquo e fraudulento, livra-me, Senhor»22. É gente que nunca diz a verdade. Está sempre a pensar como há-de subtilmente mentir e enganar os pobres simples e ignorantes, dizendo que os ídolos pedem que lhes levem, para oferecer, certas coisas; mas estas não são outras senão as que os brâmanes fingem e querem para manter as suas mulheres, filhos e casas. Fazem crer à gente simples que os ídolos comem; e há muitas pessoas que, mesmo que não almocem nem jantem, oferecem certa moeda23 para o ídolo. Duas vezes ao dia, com grande festa de atabales, comem, dando a entender aos pobres que são ídolos que estão a comer. Quando começa a faltar o necessário aos brâmanes, dizem ao povo que os ídolos estão muito zangados com ele, porque não lhes leva as coisas que, por eles, lhes mandam pedir; e que, se não lhas fornecem, tenham cuidado com eles, pois os hão-de matar, ou dar-lhes doenças, ou lhes hão-de mandar os demónios a suas casas. E os tristes simples, crendo que será assim, de medo que os ídolos lhes façam mal, fazem o que os brâmanes querem.


11. São, estes brâmanes, homens de poucas letras24; e, o que lhes falta em virtude, têm de iniquidade e maldade em grande aumento. Aos brâmanes desta Costa onde ando, pesa-lhes muito que eu nunca outra coisa faça senão descobrir as suas maldades. Eles confessam-me a verdade, quando estamos a sós, de como enganam o povo: confessam-me, em segredo, que não têm outro património senão aqueles ídolos de pedra, dos quais vivem, fingindo mentiras.
Têm estes brâmanes para si, que eu sei mais que todos eles juntos. Mandam-me visitar, e pesa-lhes muito que eu não queira aceitar os presentes que me mandam. Tudo isto fazem, para que eu não


22 Ps 42,1.
23 Fanão.
24 Os brâmanes instruídos da região mais interior, por ex. os do Maduré, entre os quais trabalhou o Padre De Nobili mais tarde, não os conheceu Xavier.


descubra os seus segredos, dizendo-me que eles bem sabem que não há senão um Deus, e que eles rezarão por mim. Em paga de tudo isto digo-lhes, da minha parte, o que me parece. Depois, aos tristes simples que, por puro medo, são seus devotos, manifesto-lhes os seus enganos e burlas, até cansar. Muitos, pelo que lhes digo, perdem a devoção ao demónio e fazem-se cristãos. Se não houvesse brâmanes, todos os gentios se converteriam à nossa fé. As casas onde estão os ídolos e brâmanes, chamam-se pagodes.

Todos os gentios destas partes sabem muito poucas letras; para mal, sabem muito. Só um brâmane, desde que estou nestas partes, fiz cristão: é jovem e muito bom homem. Tomou por ofício ensinar aos jovens a doutrina cristã.

Ao visitar os lugares de cristãos, passo por muitos pagodes. Uma vez passei por um, onde havia mais de duzentos brâmanes25, e vieram-me ver. Entre outras muitas coisas de que falamos, pus-lhes uma questão, e era: que me dissessem que é que os seus deuses e ídolos, a quem adoravam, lhes mandavam fazer para ir para a glória. Foi grande a contenda entre eles sobre quem me responderia. Disseram a um dos mais antigos que respondesse. O velho, que tinha mais de oitenta anos, disse-me que lhe dissesse eu primeiro o que mandava o Deus dos cristãos fazer. Eu, percebendo a sua ruindade, não quis dizer coisa alguma antes de ser ele a dizer. Então foi-lhe forçado manifestar as suas ignorâncias. Respondeu-me que duas coisas lhes mandavam fazer os seus deuses para ir para onde eles estão: a primeira era não matar vacas, as quais eles adoram; e a segunda era dar esmolas, e estas aos brâmanes que servem os pagodes. Ouvida esta resposta, com pena de os demónios escravizarem os nossos próximos de tamanha maneira, a ponto de em lugar de Deus se fazerem adorar deles, levantei-me, dizendo aos brâmanes que ficassem sentados e, a grandes vozes, disse o Credo e os Mandamentos da lei na língua deles,



25 Parece referir-se ao pagode de Trichendur, a que acorriam peregrinos de toda a parte.



fazendo alguma detenção em cada Mandamento. Acabados os mandamentos, fiz-lhes uma exortação na língua deles, explicando-lhes que coisa é paraíso e que coisa é inferno, e dizendo-lhes quem vai para um e quem para outro. Depois de acabada esta prática, levantaram--se todos os brâmanes e deram-me grandes abraços, dizendo-me que verdadeiramente o Deus dos cristãos é o verdadeiro Deus, pois os seus Mandamentos são tão conformes a toda a razão natural.
Perguntaram-me se a nossa alma juntamente com o corpo morria, como a alma dos brutos animais. Deu-me Deus Nosso Senhor tais razões, conformes às suas capacidades, que lhes fiz entender claramente a imortalidade das almas, coisa de que eles mostraram muito prazer e contentamento. As razões, que a esta gente idiota se hão-de dar, não hão-de ser tão subtis como as que se encontram escritas em doutores muito escolásticos. Perguntaram-me por onde saía a alma, quando um homem morria; e quando um homem dormia e sonhava estar numa terra com os seus amigos e conhecidos [como a mim muitas vezes me acontece estar convosco, caríssimos], se a sua alma ia até lá, deixando de informar o corpo. E mais me pediram: que lhes dissesse se Deus é branco ou negro26, dada a diversidade de cores que vêem nos homens. Como os desta terra são negros, parecendo-lhes bem a sua cor, dizem que é negro. Por isso a maioria dos ídolos são negros: untam-nos muitas vezes com azeite; cheiram tão mal que é coisa de espanto; são tão feios que, ao vê-los, espantam. A todas as perguntas que me fizeram os satisfiz, a parecer deles. Mas, quando com eles chegava a conclusão de que se fizessem cristãos, pois já conheciam a verdade, respondiam o que muitos entre nós costumam responder: Que dirá o mundo de nós, se esta mudança de estado fazemos no nosso modo de viver? E outras tentações em pensar que lhes venha a faltar o necessário.


26 Os indianos distinguem deuses negros e brancos; assim, Vishnu pintam-no de negro e a Shiva de branco.



Um só brâmane encontrei num lugar desta Costa, que sabia alguma coisa, porque, me diziam, tinha estudado num centro de estudos de nomeada. Procurei encontrar-me com ele e consegui maneira de nos vermos. Disse-me ele, em grande segredo, que a primeira coisa que fazem os que ensinam naquele centro de estudos, é ter juramento dos que vão aprender, de nunca dizer certos segredos que ensinam. Mas a mim, este brâmane, disse-me esses segredos em grande segredo, por alguma amizade que comigo tinha. Um dos segredos era este: que nunca dissessem que há um só Deus, criador do céu e da terra e que está nos céus; e que ele adorasse esse Deus e não os ídolos, que são demónios. Têm algumas escrituras, nas quais têm os mandamentos. A língua que naquele centro de estudos ensinam, é entre eles como o latim entre nós27. Disse-me muito bem os mandamentos, cada um deles com uma boa explicação. Guardam os domingos, estes que são sábios, coisa para não se poder crer. Não dizem outra oração, aos domingos, senão esta, e muitas vezes: «Om cirii naraina noma»28, que quer dizer: «Adoro-te, Deus, com a tua graça e ajuda para sempre»29. Esta oração dizem-na muito de passo e baixo, para guardar o juramento que fazem. Disse-me que lhes proibia, a lei natural, ter muitas mulheres; e que está nas suas escrituras que há-de vir tempo em que todos hão-de viver debaixo da mesma lei. Disse-me mais, este brâmane: que ensinam, naquele centro de estudos, muitos encantamentos30.

27 Língua sânscrito.
28 Om Srî Narâyana namah, invocação comum dos brâmanes da seita Vishnu.
29 Mais exactamente: Om (nome místico secreto da suma deidade), Srî (santo), Narâyana (nome de Vishnu repousando sobre o mar), namah (adoração), isto é, «Om! Salvè, santo Narâyana!». Não confundir esta oração com a chamada Gâyatrî (cf. DALGADO I 413).
30 Ao que parece, este brâmane pertencia à seita Mâdhva que, em tempo de Xavier, florescia na corte vijayanagarensi e sobretudo na corte de Sevvappa Nayaka (na região de Tanjaore) a que estava sujeito Negapatam (HERAS 514-515; 521--522). Tinha muitos seguidores na região tamulica (ib. 531). A sua doutrina era a seguinte: há um deus, Vishnu, (mas também as almas e a matéria são eternas).



Pediu-me que lhe dissesse as coisas mais importantes que os cristãos têm na sua lei, que ele me prometia não as descobrir a ninguém. Eu respondi-lhe que não lhas diria se, primeiro, não me prometesse não guardar em segredo as coisas mais importantes que, da lei dos cristãos, eu lhe dissesse. E logo ele me prometeu publicar tudo. Então disse-lhe e expliquei-lhe, muito a meu prazer, estas palavras importantes da nossa lei: «O que crer e for baptizado será salvo»31. Escreveu-as na sua língua, com a explicação delas em que lhe disse todo o Credo. Na explicação, acrescentei os Mandamentos, pela conformidade que há entre eles e o Credo. Disse-me que numa noite sonhou, com muito prazer e alegria, que havia de ser cristão, e que havia de ser meu companheiro e andar comigo. Pediu-me que o fizesse cristão oculto e com mais certas condições que, por não serem honestas e lícitas, deixei de o fazer. Espero em Deus que o há-de ser, sem nenhuma delas. Tenho-lhe dito que ensinem a gente simples a adorar um só Deus, criador do céu e da terra e que está nos céus; ele, pelo juramento que fez, receoso de que o demónio o mate, não o quer fazer.


13. Destas partes, não sei que mais escrever-vos, a não ser que são tantas as consolações que Deus Nosso Senhor comunica aos que andam entre estes gentios a convertê-los à fé de Cristo, que, se contentamento há nesta vida, se pode dizer que é este. Muitas vezes me acontece ouvir dizer a uma pessoa que anda entre estes cristãos: «Ó Senhor, não me deis muitas consolações nesta vida32; ou, já que as dais por vossa infinita bondade e misericórdia, levai-me para a


Vishnu é o formador do mundo. Os outros ídolos, ou são diabos ou revelações de Vishnu, e todos servos de Vishnu. Os mandamentos, segundo eles, são dez, e a sua oração é a já mencionada. (cf. H. VON GLASENAPP, Madhva’s Philosophie des Vishnu-Glaubens, Bonn 1923, 38; 44; 46-51; 66-75; 85-86. Encyclopedia of Religion and Ethics VIII 232-235).
31 Mc 16,16.
32 Cf. a exclamação tantas vezes atribuída a Xavier: «Basta, Senhor, basta!» (MX II 950).

vossa santa glória, pois dá tanta pena viver sem ver-vos, depois de tanto vos comunicardes interiormente às criaturas». Oh, se os que estudam letras, tantos trabalhos pusessem em ajudar-se para sentir o gosto delas, como noites e dias trabalhosos suportam para as aprender! Oh, se aqueles contentamentos que um estudante busca em entender o que estuda, os buscasse em dar a sentir aos próximos o que lhes é necessário para conhecer e servir a Deus, quanto mais consolados e aparelhados se achariam para dar conta, quando Cristo lhes perguntasse: «Dá-me conta da tua administração»33!


14. As recreações que nestas partes tenho, são as de recordar--me muitas vezes de vós, caríssimos Irmãos meus, e dos tempos em que pela muita misericórdia de Deus Nosso Senhor vos conheci e convosco tratei, conhecendo em mim e sentindo dentro, em minha alma, quanto por minha culpa perdi do tempo em que convosco tratei, por não ter-me aproveitado dos muitos conhecimentos que Deus Nosso Senhor de si vos tem comunicado. Faz-me Deus tanta mercê, por vossas orações e lembrança contínua que de mim tendes em encomendar-me a Ele, que em vossa ausência corporal reconheço que Deus Nosso Senhor, graças ao vosso favor e ajuda, me dá a sentir a minha infinita multidão de pecados, e me dá forças para andar entre infiéis; disto dou graças a Deus Nosso Senhor, muitas, e a vós, caríssimos Irmãos meus. Entre muitas mercês, que Deus Nosso Senhor nesta vida me tem feito e faz todos os dias, esta é uma: que em meus dias vi o que tanto desejei, que foi a confirmação da nossa regra e modo de viver34. Graças sejam dadas a Deus Nosso Senhor para sempre, pois teve por bem manifestar publicamente o que no íntimo, ao seu servo Inácio e Pai nosso, deu a sentir.

No ano passado escrevi-vos35 o número de Missas que, nestas partes das Índias, pelo Rvmº cardeal Guidacion, dissemos, Micer Paulo


33 Lc 16,2.
34 Cf. Xavier-doc. 12,6.
35 Cf. Xavier-doc. 12,1.

e eu: as que, desde então para cá dissemos, não sei o número delas, mas crede que todas as nossas missas são por ele. Para consolação nossa, fazei-nos saber quanto se assinala no serviço a Deus S.S.Rmª, e também para acrescentar-nos a devoção, a Micer Paulo e a mim, de sermos perpétuos capelães seus. Não deixeis de escrever-nos do fruto que na Igreja faz.

Termino, rogando a Deus Nosso Senhor que, já que por sua misericórdia nos juntou e por seu serviço nos separou para tão longe uns dos outros, nos torne a juntar na sua santa glória.


15. E para alcançar esta mercê e graça, tomemos por intercessores e advogados todas aquelas santas almas destas terras onde ando, que, depois que por minha mão baptizei, antes de perderem o estado de inocência Deus Nosso Senhor levou para a sua santa glória, cujo número creio que passa de mil. A todas estas santas almas rogo que nos alcancem de Deus esta graça: que em todo o tempo que estivermos neste desterro, sintamos no íntimo das nossas almas sua santíssima vontade e essa perfeitamente cumpramos.

De Cochim, a 15 de Janeiro, ano de 1544

Vosso caríssimo em Cristo irmão
FRANCISCO

A.M.D.G. et B.V.M.

Le sette Ore dell’Ufficio della Beata Vergine


46 – Le sette Ore dell’Ufficio della Beata Vergine



Una volta, dopo aver trascorso buona parte della notte ricordando con amore e dolore la Passione del Signore si sentì molto spossata e, non avendo ancora recitato il Mattutino, disse al Signore: «Ah, mio Dio, Tu vedi che la mia umana fragilità non permette di fare ora a meno di un po’ di riposo. Dimmi dunque quale ossequio potrei prestare alla tua beatissima Madre in compenso delle Ore canoniche che avrei dovuto recitare in sua lode». «Lodami all’Ora di Mattutino – rispose il Signore –  in unione con il mio stesso dolcissimo Cuore per l’intemerata verginità di Colei che vergine mi concepì, vergine mi diede alla luce e vergine rimase dopo il parto. Lodami per l’innocenza con cui ha imitato me, l’innocenza stessa, che, nell’ora appunto che corrisponde a Mattutino mi son lascito arrestare per la redenzione del mondo, per essere poi legato, schiaffeggiato, colpito senza pietà, colmato di oltraggi e di obbrobri».

Ora, mentre in tal modo lodava il Signore, vide che Egli presentava il suo Cuore divino sotto forma di un aureo calice alla sua Vergine Madre. La Vergine bevve a larghi sorsi questa bevanda più dolce del miele e sembrò esserne come inebriata e penetrata di soavità fin nell’intimo dell’anima. Essa disse allora alla Vergine Madre: «Ti lodo e ti saluto, o Madre beatissima, degnissimo sacrario dello Spirito Santo, attraverso al dolcissimo Cuore di Cristo, Figlio di Dio Padre e Figlio tuo amantissimo. Aiutaci, ti prego, in tutti i nostri bisogni, e soccorrici nell’ora della morte. Così sia.». 

Comprese allora che se uno loda il Signore nel modo indicato, aggiungendo anche il verso suddetto per glorificare la beata Vergine, è come se presentasse ogni volta alla Madre di Dio il Cuore del suo amantissimo Figlio per inebriarla di questo calice divino. La Vergine Regina accetterebbe volentieri questa offerta e la ricompenserebbe con tutta la liberalità della sua materna tenerezza.

Il Signore aggiunse: «Lodami all’Ora di Prima in unione al mio Cuore dolcissimo per la tranquilla umiltà con la quale la Vergine immacolata si disponeva a ricevermi come Figlio, anticipando l’umiltà che mostrai per la redenzione del genere umano quando, Io, giudice dei vivi e dei morti, ho degnato comparire davanti a d un pagano per essere da lui giudicato».

«Lodami all’Ora di terza per quel desiderio ardente col quale essa attrasse nel suo seno dal seno del Padre il Figlio di Dio; essa anticipò così l’ardente desiderio che Io ebbi della salvezza del mondo, quando, colpito da durissimi flagelli, coronato di spine, mi son degnato, all’ora di Terza di portare con dolcezza e pazienza sulle mie spalle stanche e insanguinate una croce ignominiosa».

«Lodami all’Ora di Sesta per la sicurissima speranza con la quale la Vergine celeste desiderava la mia gloria con perfetta buona volontà e intenzione purissima: essa anticipò così quello che Io feci sospeso sull’albero della croce, quando desiderai con tutte le forze la salvezza del genere umano in mezzo alle amarezze e alle angosce della morte. Quest’ardente desiderio mi fece gridare: Sitio; avevo infatti sete della salvezza degli uomini, tanto che, se fosse stato necessario, avrei sopportato supplizi ancor più aspri per la redenzione dell’uomo».

«A Nona, lodami per l’ardentissimo, reciproco amore che unì il mio Cuore a quello della Vergine Immacolata; per quell’amore che unì inseparabilmente l’eccellenza della Divinità alla debolezza umana nel seno di questa Vergine che agonizzò con me, Vita dei viventi, quando all’Ora di Nona morii sulla croce amarissima per la redenzione del genere umano».

«A Vespro, lodami per l’indefettibile fedeltà con cui la Beata Vergine, sola, rimase fino alla mia morte immobile ai piedi della croce, mentre gli Apostoli fuggivano e tutti gli altri disperavano,. Essa imitò così la fedeltà con cui dopo la mia morte e deposizione dalla croce andai a cercare l’uomo fin nel fondo degli inferi, per strapparlo con l’onnipotenza della mia misericordia al Limbo e trasportarlo nel gaudio del Paradiso».

«All’Ora di Compieta, lodami per la ammirabile perseveranza con cui la Madre mia dolcissima ha perseverato con fermezza nel bene e nella virtù sino alla fine della sua vita. Essa imitò così la perfezione con la quale Io compii l’opera della redenzione umana, giacché dopo aver ottenuto con la mia amarissima morte il vostro riscatto, ho tuttavia ancora voluto che il mio corpo incorruttibile fosse sepolto secondo il costume consueto, per mostrare che non c’è umiliazione che Io non abbia voluto accettare per la salvezza dell’uomo».

DELL'AURORA TU SORGI PIU' BELLA

"Scala del Paradiso" di san Giovanni Climaco


Il santo della scala: Giovanni Climaco



In marzo, le chiese cattoliche e ortodosse ricordano insieme San Giovanni Climaco (Ιωάννης της Κλίμακος).
Il suo soprannome è venuto dall'opera che l'ha reso celebre, uno dei capolavori dell'ascetica monastica: "La scala del Paradiso" (Κλίμαξ). San Giovanni Climaco, contemporaneo di Maometto, propone i trenta gradini che portano dalla terra fino al cielo, arrampicandosi sulla scala posta e sorretta da Cristo stesso, che per primo l'ha percorsa. 

Le icone che "fotografano" la scala giovannea mostrano la lotta spirituale: i monaci ascendono pericolosamente, senza reti di protezione, esortati dai santi, aiutati dagli angeli, ma insidiati dai demoni, che cercano di farli cadere per attirarli nel profondo dell'inferno. 

La visione "agonistica" della vita spirituale è qualcosa da recuperare nel nostro tempo, dove ormai domina uno psicologismo che rischia di rinchiudere in se stessi e nei propri limiti, problemi, inconsistenze, fermando all'analisi e spesso deresponsabilizzando ("sono fatto così!...).

Sul valore del testo di San Giovanni "della scala" i cristiani d'Oriente e Occidente sono sempre stati d'accordo, diffondendo enormemente questo libro, attraverso traduzioni in tutte le lingue antiche della cristianità. Nella tradizione Bizantina, la quarta domenica di Quaresima è dedicata alla commemorazione del Climaco, visto come un incoraggiante maestro sulla via dei propositi quaresimali e dei sacrifici connessi con la purificazione prepasquale per tutti i fedeli.
Vi propongo i link all'opera completa di Giovanni Climaco, secondo la traduzione italiana del 1874 del sacerdote Antonio Ceruti (1830-1918), archivista e viceprefetto della Biblioteca Ambrosiana di Milano. 
Potete così vedere, gradino per gradino, tutto il percorso ascensionale dell'anima proposto dal grande padre degli asceti. La lingua usata è alquanto ottocentesca, ma comunque ben comprensibile anche oggi.

INDICE della "Scala del Paradiso" di san Giovanni Climaco

Prologo
Come questo libro fu translato di Greco in latino
Incomincia la vita di santo Joanni abate del Monte Sinai, detto Scolastico, lo quale scrisse queste Tavole spirituali, cioè la Santa Scala; la quale scrisse compendiosamente Daniello, umile monaco del monasterio di Raytu
Comincia la pistola dell’abate Jovanni, duca dei monaci di Raytu, mandata all’ammirabile abate Joanni del monte Sinai, cognominato Iscolastico, utilemente per questa scrittura nominato Climaco
Comincia la pistola risponsiva di Jovanni Scolastico, abbate del monte Sinai, detto Climaco, a detto Joanni abate e duca de’ monaci di Raytu
Qui comincia il prolago di questo libro
Comincia la Tavola de’ Capitoli in numero XXX
L’altro prolago di questo libro
Grado I. Il primo capitolo del libro di santo Jovanni Climaco, e lo primo grado della Santa Scala si è della fuga del mondo, e dello rinunziamento delle cose terrene
Grado II. Di non avere affetto a niuna cosa viziosamente
Grado III. Della vera peregrinazione
Delli sogni che adivengono a coloro, che sono introdutti (Continuazione del Grado III)
Grado IV. Della beata e sempre da memorare santa obedienzia
Grado V. Della sollicita e veramente e manifestamente efficace penitenzia, la quale è figurata in San Piero
Grado VI. Della memoria della morte
Grado VII. Del pianto che letifica l’anima
Grado VIII. Della inirascibilità, cioè del non adirarsi, la quale è grave cosa a trovarla ed a possederla
Grado IX. Della Memoria della malizia, vero rancore
Grado X. Della Detrazione
Grado XI. Del molto parlare
Grado XII. Del mentire
Grado XIII. Dell’Accidia
Grado XIV. Della famosissima regina gola
Grado XV. Della incorruttibile e bene olente castità per sudori e fatiche acquistata
Grado XVI. Dell’avarizia, ed insieme con essa della povertade
Grado XVII. Della povertà

Grado XVIII. Della insensibilità, cioè della mortificazione dell’anima e morte della mente, innanzi che vegna la morte del corpo
Grado XIX. Del sonno e dell’orazione e della salmodia delle congregazioni
Grado XX. Della vigilia corporale, e come per essa viene la grazia nell’anima, ed in qual modo si conviene cercare di quella
Grado XXI. Della paura feminile e fanciullesca
Grado XXII. Della vanagloria colle molte forme e colle molte faccie
Grado XXIII. Della superbia acefala, cioè senza capo
Delle inesplicabili cogitazioni della superbia (Continuazione del Grado XXIII)
Grado XXIV. Della mititade ovvero mansuetudine e simplicità, e della innocenzia acquistata per l’aiutorio della grazia divina col proprio studio ed industria; e con essa insieme della malignità
Grado XXV. Della altissima umilità, ch’è perdizione delli vizii, secondo che se ne può sentire e vedere
Grado XXVI. Della discrezione, cioè discernimento delle cogitazioni e delle vizia e delle virtudi
Della bene discreta discrezione (Continuazione del Grado XXVI)
Ancora del grado ventesimo sesto
Grado XXVII. Della quiete dell’anima e del Corpo
Della differenza che è infra li quieti (Continuazione del Grado XXVII)
Grado XXVIII. Della santa e beata orazione, madre delle virtudi, e della intellettuale e sensibile assistenzia che è in essa
Grado XXIX. Del cielo terreno, impassibilità e perfezione seguitativa di Dio, e resurrezione dell’anima innanzi alla comune resurrezione
Grado XXX. Della congiunzione della Santa Trinitade, cioè fede speranza e carità


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GRADO XVIII



Della insensibilità, cioè della mortificazione dell’anima e morte della mente, innanzi che vegna la morte del corpo.

La insensibilità sì nello corpora sì nelli spiriti è uno mortificamento del sentimento, lo quale mortificamento rimane nelle corpora per molta lunga infermità, e nelli spiriti procede da molta lunga negligenzia. La privazione del dolore è una negligenzia qualificata, cioè compresa coll’anima, ed è una intenzione e deliberazione consopita, addormentata e ritardata in ben fare, la quale procede e nasce dall’audacia e dalla presunzione della misericordia di Dio; 

ed è uno prendimento di prontezza spirituale, per la quale entra poi la prontezza della carne, cioè li cadimenti carnali, ed è uno forte laccio e legame, del quale tardi l’anima si scioglie, ed è una stoltizia ed ignoranzia e mollezza di compunzione, ed è una intrata di disperazione, ed è madre di dimenticamento e discordamento della propia salute, e figliuola d’esso discordamento, però che da quello discordamento della salute dell’anima procede la durizia del cuore, ed è uno discacciamento di timore. 

 Quello uomo che non si duole del pericolo della sua anima, è uno filosofo stolto, per altrui savio e per sè sciocco, ed è uno sponitore di scrittura giudicato da sè medesimo, ed è un parlatore contrario a sè medesimo, amando di studiarsi di ben parlare, ed essendo cieco, si fa maestro di vedere; 


disputa ed insegna in qual modo si sana la piaga dell’anima altrui, e la piaga dell’anima sua non cessa di percuotere e di farla più grande;
parla contra li vizii, e non posa di fare quello che accresce li vizii;
biastemmia e desidera male di sè medesimo per lo male che à fatto, ed incontanente rifà quello medesimo male;
per la qual cosa s’adira contra sè medesimo, e non si vergogna delle parole che à dette.
Contra a sè chiama e dice: «Misero a me, mal faccio,» e prontamente fa peggio;
ôra contra ‘l vizio colla bocca, e per esso vizio combatte col corpo;
  
parla della morte saviamente, ed egli sta duro sanza paura, come s’egli fosse immortale.
Del partimento dell’anima parlando sospira, e dorme per negligenza, come fosse eternale;
dell’astinenzia parla ordinatamente, e per la gola combatte, e conturbasi se non à quello che gli diletta. 

Legge del giudicio quanto è terribile, e comincia a ridere; 


pensa nel leggere che parla della vanagloria, e nel pensiero di quella lezione si vanagloria, parendogli avere sottilmente parlato e pensato.


Della vigilia parlando, dimostra quanto è utile, ed incontanente sè medesimo sommerge nel sonno; l’orazione leva in alto lodandola, e da essa come dal flagello fugge. 

La obedienzia molto beatifica, ed egli è il primo che la rompe; loda coloro che non amano le cose viziosamente, ed egli per uno ago e per un vile panno prende rancore e combatte e non si vergogna. 

Essendo adirato, si rammarica, e di quella amaritudine che à presa, un’altra fiata s’adira, e aggiungendo difetto sopra difetto e cadimento sopra cadimento, non si sente;

mentre che è satollo, vuole fare penitenzia, ed andando un poco innanzi, si satolla ancora meglio. 

Del silenzio dice che è beato, e sì lo loda con molto parlare, ammaestra gli altri della mititade, ed in quella dottrina spesse fiate s’adira. 

Levando la mente in alto a pensare dello stato suo, dolendosi sospira, e rimutando il capo della mente da quello pensiero, un’altra fiata al vizio si rappressa. 

Vitupera e biasima il riso, e sorridendo ammaestra del pianto;

sè medesimo vitupera e biasima d’alcuna cosa per essere lodato d’umilità, e per vituperio vuole a sè onore acquistare;

raguarda in faccia viziosamente, e di castità e di continenzia grandemente parla. 

Loda li solitarii che stanno nella quiete, vivendo egli nel mondo, e non considera che confonde sè medesimo; 

glorifica quelli che sono misericordiosi, ed egli impropera e dice villania a’ poveri; 

sempre mai è accusatore di sè medesimo, e in sentimento di sè non vuole venire (non vo’ dire che non possa). 

Io vidi molti di questi cotali, che udendo parlare della morte e delli spaventosi giudicii, piangevano, e con lagrime negli occhi, con gran fretta andavano alla mensa, ed io di questa cosa mi feci grande maraviglia, pensando come questa morto, cioè la insensibilità, donna della vita de’ miseri, essendo forte fortificata dalla molta privazione del dolore, potee avere vittoria del pianto sanza diliberazione (1).

Secondo la mia piccola virtù e piccolo conoscimento abbo denudata e scoperta la pietra, cioè la durizia, e le fraude e gl’inganni e le piaghe di questa dura e smaniosa e pazza insensibilità. Insegnare più contra essa con parole, non me ne pate il cuore; ma qualunque è quegli, che per esperienzia con Dio abbia potenzia d’insegnare e dare medicine contra alle piaghe sue, non ci sia pigro nè tardo, però ch’io non mi vergogno di confessare la mia impotenzia, siccome uomo da essa fortemente legato, e le sue fraude ed industrie non pote’ da me medesimo comprendere; se non ch’io essa in alcuno luogo la presi, e per violenza la tenni e crucia’la col fragello del timore di Dio, e batte’la colla incessabile orazione, e queste cose predette mi feci confessare, onde questa tirannia malefica fu a me avviso che dicesse così: 

«Li miei confederati, vedendo li morti, ridono; stando in orazione, tutti sono di pietra duri ed ottenebrati; mentre che veggiono la sagrata mensa, cioè l’altare, ed essendo infra le cose sagre, sono irriverenti ed insensibili. 
Quando prendono il dono della Eucarestia del corpo di Cristo, tale affetto ci ànno, come se assaggiassono o gustassono un poco di pane vile. Io, disse ella, vedendo questi miei confederati essere compunti, faccione scherne. Io, disse questa insensibilità, dal padre mio che m’ingenerò, apparai d’uccidere tutti li beni, che nascono della fortezza e del desiderio dell’anima; io sono madre del riso, io sono nutricatrice del sonno, io sono amica della satollezza e della sazietà; io essendo ripresa, non mi dolgo; io m’accosto e congiungo colla infinita irreligiosità ed irriverenza.» 

Io essendo isbigottito e pauroso delle parole di questa smaniata e furiosa, dimandai per volere sapere il nome del padre che la ingenerò, ed ella disse: 

«Io non abbo una sola genitura, però che la mia generazione è mescolata e varia e non stabile. Me fortifica la satollezza, me fece crescere lo lungo tempo; me ingenerò la maligna consuetudine, la quale chi ritiene, da me già mai libero non sarà. Persevera in molta vigilia; pensando lo giudicio eternale, forse per questo un poco allenteraggio. Cerca la cagione, per la quale in te sono nata, e contra essa combatti fortemente, però ch’io non aggio una medesima cagione in ogni persona. Ora spesse fiate nelle sepolture de’ morti, e la imagine loro continuamente dipigni nel core tuo, però che se questa imagine non ci sarà dipinta e scritta collo stile del digiuno e colla penna della vigilia, giammai non mi vincerai.»

Da questa lapidea insensibilità, la quale è mortificazione dell’anima e morte della mente innanzi alla morte corporale, ce ne liberi il nostro Signore Gesù Cristo per la sua passione; della quale chi è libero, possiede grado di virtù in santificazione di vita.

Nota:1. Lo pianto toglie lo dilettamento del mangiare, e fugge da’ dilettamenti del corpo come dal suo nimico; e questi insensibili colle lagrime negli occhi correvano a mangiare; però dice questo santo che si maraviglioe, come questa morte vinceva il pianto, togliendo la propietà e la potenzia del pianto.

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GRADO XVIII 

De insensibilidad, que la mortificación del alma y la muerte de la mente, antes de que venga la muerte del cuerpo.

El entumecimiento de la corporación sí sí paneles mortificamento espíritus es una de los sentimientos, la mortificamento que permanece en el corpus de la larga enfermedad que muchos, y los espíritus paneles proceder de una negligencia muy largo. La privación del dolor es una negligencia cualificado, que con el alma, y es una intención y deliberación consopita, dormir y demoró en hacer el bien, lo que deben hacer y fue creado por la audacia y la presunción de la misericordia de Dios, y es un aprendizaje de la preparación espiritual, para que luego entra en la preparación de la carne, que cadimenti carnal, y es un lazo fuerte y corbata, que más tarde se derrite el alma, y es una locura y la ignorancia y la debilidad de la compunción, y es un Mark-a la desesperación, y es la madre de dimenticamento y discordamento de su propia salud, y la hija de discordamento ella, sin embargo, que la salud del alma procede discordamento durizia del corazón, y es destierro del miedo. 

Ese hombre que se queja del peligro de su alma, es un filósofo sabio tonto, para otros y para sí mismo tonto, y es uno sponitore escrito juzgado por uno mismo, y es un orador en contra de sí mismo, amando a dedicarse también hablar y ser ciego, fue el maestro de vista disputa y enseña una herida sana el alma de los demás, y la difícil situación de su alma no deja de atacar y hacerlo más grande, habla en contra de los vicios, y no por hacer lo que aumenta los vicios; biastemmia y desear el mal de sí mismo por el mal que un hecho, y incontinente atrae el mal mismo, por lo que se enoja contra uno mismo, y no se avergüenza de las palabras que un dijo. 

Contra llama y dice a sí mismo: "Me pusieron, mal hacer eso", y rápidamente lo peor, y ahora contra "el vicio con la boca, y lucha vice para ello con el cuerpo sabiamente habla de la muerte, y él es duro, sin miedo, como si fuera inmortal. Mento de la conversación de los suspiros del alma, y duerme por negligencia, como Eternale; dell'astinenzia hablar bien, y lucha garganta, y si no conturbasi lo que ama. Derecho del juicio es terrible, y comienza a reír, pensar al leer que habla de la vanagloria, y la idea de que la lección es vanagloria, pensando que ha hablado sutilmente y el pensamiento. Eva habla, muestra lo útil e incontinente mismo se sumerge en el sueño, la oración alabando palanca hacia arriba, y se escapa de este flagelo. 

La obediencia muy beatífica, y él es el primero que se rompe, él alaba a los que no les gustan las cosas violentamente, y una aguja y una tela base tiene resentimiento y peleas y no se avergüenza. Estar enojado, lamenta, y la amargura que un socket, otro affair conversaciones se enfada, y añadiendo el defecto anteriormente y defecto cadimento cadimento anterior, no se oye, si bien se sacia, que quiere hacer penitencia, y yendo un poco más lejos , está saciado aún mejor. 

El silencio dice que es bendecido, y sí lo alaba con mucha charla, enseña a otros el mititade, y esa doctrina a menudo se enfada. El aumento de la mente para pensar en su estado, lamentando suspiros, y rimutando la cabeza de la mente de ese pensamiento, otro asunto habla con el vicio es rappressa. Vitupera y culpa arroz, enseña el llanto y la sonrisa; vitupera mismo y culpa a sí mismo por algo digno de alabanza de la humildad y auto-reproche quiere comprar honor; cualidades con la de ellos en la cara con saña, y la castidad y la continencia habla mucho . Alabado ellos que son solitarios en la tranquilidad, él vive en el mundo, y no considera que se confunde; glorifica a los que son misericordiosos, y dice que impropera y grosería de "pobres siempre jamás acusador de sí mismo, y el sentimiento de auto- no quiere venir (no vo 'no se puede decir eso). Vi a muchos de estos hombres, que oyeron hablar de la muerte y los modelos de miedo giudicii, llorando, y con lágrimas en los ojos, con mucha prisa fue a la cafetería, y de esta cosa que hice con gran sorpresa, pensando como esta muerto, que es la falta de sensibilidad , mujer de la vida de "miserable, ser fuerte fortificado por un montón de dolor privación, Potee tienen grito de victoria sin deliberación (1).


En mi virtud poco pequeña y suscriptores de descubrimiento de conocimientos desnudaron y la piedra, que es el durizia y fraude y engaños y las heridas de esta insensibilidad loco y duro y con ganas.Enseñar más contra él con palabras, no me pate el corazón, pero sea lo que sea lo que Dios tiene para experiencial con potencial para enseñar y dar medicamentos contra los males de la suya, no hay ni perezosa tarde, pero no hizo ningún vergüenza de confesar mi impotenzia, ya que fuertemente ligada al hombre, y su fraude y las industrias no podía "entender por mí mismo, si no en cualquier lugar que lo tomé, y la sostuvo por la violencia y con crucia'la fragello el temor de Dios, y la oración batte'la pegamento incessabile, y estas cosas de arriba me confieso, a esta tiranía del mal era para alertarme que dijo lo siguiente: 

"Mi confederados Li, al verlos muertos, risa, de pie en la oración, todo son de piedra dura y oscura, mientras que Sagrata veggiono la mesa, es decir, el altar, y está por debajo de los festivales cosas, son irrespetuosos e insensible. Cuando toman el don de la Eucaristía, el cuerpo de Cristo, este año nos amamos, como si assaggiassono gustassono o un poco de pan vil. Me dijo que vio a estos mis cómplices ser pinchado, scherne cara grande. Me dijo que esta falta de sensibilidad, de mi padre que m'ingenerò, apparai para matar a todos los bienes que nacen de la fortaleza y el deseo del alma que yo soy una madre de arroz, soy nutricatrice de sueño, soy un amigo de satollezza y la saciedad, ya que disparar, no me arrepiento, me acerco a ella y me congiungo irreligión cola infinita e irreverencia. "isbigottito y yo tener miedo de las palabras de este smaniata y furioso, dimandai quiere saber el nombre del padre que engendra, y ella dijo: "Yo no soy un suscriptor único parentesco, sin embargo, que mi generación es mixta y variada y estable no. 

Satollezza me conforta, me hizo crecer mucho, me engendró el mal hábito, que aquellos que creen que nunca he no ser libre. Persevera en mucho antes, pensando que el Eternale juicio, tal vez esto allenteraggio un poco. Encuentre la causa por la que habéis nacido en, y luchar con fuerza contra ella, pero no ay la misma razón que en cada persona. Ahora, muchas veces en los entierros de "muerto, e imagina que se dipigni en su núcleo, sin embargo, si la imagen no será pintado y escrito estilo del cuello rápido y con su pluma el día anterior, yo nunca ganan". 



De esta insensibilidad pedregoso, que es la mortificación del alma y la muerte de la mente antes de la muerte del cuerpo, prohíben a nuestro Señor Jesús Cristo por su pasión, que el que es libre, tiene grado de virtud en la santidad de la vida.

Nota: 

1. Llorando elimina la dilettamento de comer y huyendo de "cuerpo dilettamenti como su enemigo, y éstos insensible, con lágrimas en los ojos corrió a comer, pero él dice que este maraviglioe santo, como esta muerte ganó las lágrimas, la eliminación de las propiedades y el potencial de la planta.


Testo preso da: * Il santo della scala: Giovanni Climaco 


http://www.ortodossia.it/w/media/com_form2content/documents/c17/a2081/f255/climaco_scala.pdf



Santi angeli custodi 

preservateci 

da tutte le insidie del maligno.